Um raro mutualismo - Por Gustaaf Winters
É o bicho! Elas são tão antigas quanto os dinossauros. Possuem dois estômagos. Carregam de 50 e até 100 vezes o próprio peso. Respiram por buracos laterais ao corpo, porque não possuem pulmões. Também não têm orelhas, mas sentem vibrações nos pés. E estão em cada palmo do planeta. Adivinhou, né? Isso aí! São as Formigas! Bichinhos! Isso! Aqueles devoradores de folhas, que nos trapaceiam até na pia da cozinha. Só que não! Não são todas, visse? Volto a falar deles mais pra frente, "guenta" aí!
É a planta! Agora falando de plantinhas. As Rubiáceas também são cosmopolitas. Possuem cerca de 550 gêneros e 9 mil espécies. É ali que moram as Ixoras, as Mussaendas e o Café.
O que poucos sabem, é que nessa família mora uma plantinha muito estranha, muito doida e bizarra!
Ela tem um caule que parece uma “graviola” grandona: assim, rechonchuda com “espinhos” na superfície. Ah! e quando se abre ao meio a fruta – digo, tronco, nem parece mais tronco. Parece uma galeria de cupins, cheio de "corredorzinhos" tortinhos. Não consegue viver sozinha: só a base de um jeitão chamado de Mutualismo (outros chamam de Simbiose). Lembrando: é uma associação entre dois seres vivos, na qual ambos se beneficiam. Um não vive sem o outro - "Ki lindu!" Vive na copa das árvores, mas não é parasita: é epífita. Ela gosta de ter um nome esquisito.
A planta da qual estou falando é uma Mirmercófita. Ôh loco! De acordo com o tio Google, são aquelas plantas que possuem estreita ligação/associação com uma colônia de formigas.
Existem várias outras mirmecófitas, essas mais conhecidas por aqui: “Pau formiga” por exemplo. No caso da “Embaúva”, 98% do nitrogênio é um delivery logístico das formigas.
Myrmercodia beccari – A “Planta Formiga"
Na família das Rubiáceas existem uma pancada e Myrmecordias. De carona na família também aparecem as Hydnophytum com o mesmo jeitão.
Por que que é bom pros dois? A coisa funciona mais ou menos assim: As formigas são protegidas dos “tamanduás” da vida, porque estão lá em cima na copa das árvores. E dentro de uma “bolotona” espinhenta. Lá dentro as formigas fazem aquela bagunça e não limpam os quartos. É o que a planta quer: usa aquilo como nutrientes, absorvidos por glândulas especiais distribuídas pelas galerias e túneis. Agora entendi porque são tão gordinhas!
Essa superfície de absorção é bem maior do que se ela tivesse que pegar o “grude” de raízes. Num é o “must”?
Ah! Tava quase esquecendo... na superfície do caulex existem pequenos orifícios para as formigas entrarem e saírem para passear.
Taí! ...amantes das plantinhas.....uma nova surpresa da Nartureza
FICHA TÉCNICA
- Nome científico: Myrmercodia spp. São várias espécies: tuberosa; M. platytyrea...etc.
Hydnophytum spp. Também com várias espécies: H. formicarum p. ex.
- Nome popular: Planta Formiga. Em inglês: “ant plant”.
- Origem: Nordeste da Austrália, Papua Nova Guiné, Indonésia, Malásia.
- Familia: Rubiaceae.
- Porte: De 30 a 60 cm.
- Crescimento: lento
- Folhas: Simples, lanceoladas, carnudas, perenes.
- Flores: Não muito visíveis, esbranquiçado que aparecem no verão.
- Sementes: Minúsculas que se espalham com o vento.
- Solo: Indicado para solos arenosos e bem drenados com i/3 de matéria orgânica. pH 6,0 a 6.5
- Rega: Ótima resistência à falta de chuvas e regas. A rega deve ser bem moderada.
- Clima: Tropical e úmido de meia sombra. Pode receber 4 a 5 horas de sol direto.
- Reprodução: Por sementes. Semear em lascas de madeira ou em vasos de barro com substrato: 3 partes de lascas de madeira seca; 1 parte de areia; 0,5 parte de fibra ou pó de coco. Deixar sempre úmido, porém drenado e sem encharcamentos.
- Uso: Por ser uma planta tipo suculenta de meia sombra, ela pode ser usada como planta de varanda.
- Adubação: Use adubo líquido para orquídeas ou adubos de liberação lenta com 100 ppm de nitrogênio.
Myrmercodia echinata, cultivada como planta de meia sombra